A região que compreende os bairros de Irajá, uma porção de terra de Jacarepaguá, Campo Grande, Engenho Velho, Bonsucesso, Olaria, Ramos, Cascadura, Realengo, Madureira, Anchieta, Pavuna, Penha e Piedade, era parte da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, criada em 1644. No decorrer dos anos, esta região foi desmembrada.
Consta que as terras foram doadas em sesmaria por Salvador Correia de Sá em 1568 a Antonio de França, que construiu o Engenho de Nossa Senhora da Ajuda. A Sesmaria era a concessão de terras no Brasil pelo governo português com o intuito de desenvolver a agricultura, a criação de gado e, mais tarde, o extrativismo vegetal, tendo se expandido à cultura do café e do cacau. Ao mesmo tempo, servia a povoar o território e a recompensar nobres, navegadores ou militares por serviços prestados à coroa portuguesa.
No século seguinte, após vários desmembramentos da fazenda, coube ao Capitão Baltazar de Abreu Cardoso as terras onde estabelece sua fazenda e ergue uma pequena Ermida (Ermida é um templo cristão secundário. Trata-se de uma pequena igreja ou capela, normalmente localizada fora das povoações ou em lugares isolados – Fonte: Wikipédia) no alto do penhasco.
As primeiras ocupações da área da Penha e adjacências que correspondem hoje aos bairros atravessados pela Estrada de Ferro Leopoldina, predominavam a produção açucareira e de subsistência.
A Igreja de Nossa Senhora de França
No ano de 1635, o Capitão Baltazar de Abreu Cardoso edifica no alto da grande rocha uma pequena ermida em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Com o passar do tempo, devido sua construção no Penhasco, a invocação passa a ser de Nossa Senhora da Penha, culto originário do norte da Espanha e introduzido em Portugal no século XVI, que trouxe a devoção para suas colônias.
Consta nos arquivos que a primeira ermida foi edificada de tijolos e tendo vinte palmos de circunferência, um altar-mor arredondado, tendo um arco cruzeiro na frente e na sacristia.
A Devoção na Cidade do Rio de Janeiro
A devoção a Nossa Senhora da Penha em cada estado do Brasil e diversos países, aconteceu de forma diferenciada. No Rio de Janeiro, conta-se em narrativa oral que o Capitão Baltazar de Abreu Cardoso tinha por hábito subir a grande pedra para observar sua fazenda. Um dia, descansando ao pé de uma árvore, surgiu uma cobra peçonhenta pronta para dar o bote. Ele então Bradou “Valei-me Nossa Senhora”, surge um lagarto predador natural da serpente e a ataca. O Capitão afasta-se do local e em agradecimento ergue no topo da rocha, uma ermida em louvor a Nossa Senhora do Rosário. A notícia espalhou-se rapidamente pela comunidade sobre o milagre de Nossa Senhora do Alto do Penhasco. Provavelmente a partir deste ponto a invocação devocional é substituída.
Existem várias narrativas referentes ao culto de Nossa Senhora sob a invocação de Penha de França. Uma delas diz:
“Antonio Simões, guerreiro do tempo de D. Sebastião, indo para a desastrosa expedição de Alcácer-Quibir, fez promessa de mandar executar dez imagens da Virgem Maria, sob diversas invocações, se conseguisse voltar à pátria. De regresso, cumpriu o voto feito e as imagens foram produzidas. Há quem afirme que sendo ele mesmo o escultor, as fabricou na sua própria oficina procurando logo dar-lhes condigno destino. A uma destas imagens – a altura o deu o título de Nossa Senhora da Penha de França em atenção à outra que, sob a mesma invocação, se adorava na Espanha” (Estudo de Folclore Luso Brasileiro. Prof. Mariza Lira – Volume I – Editora Gráfica Laemmert Limitada – 1952 RJ – retirado do Boletim da Junta da Província da Estremadura nº 20 – 1949)
Outra versão é a do Padre Colunga que diz em seu livro que Simão Vela, um peregrino francês, no dia 19 de maio de 1934, descobre em Nuestra Señora de Peña de Francia na província de Salamanco – Espanha, a imagem de Nossa Senhora, tão célebre e cristalina. Daí a invocação de Nossa Senhora da Penha de França.
Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França
No ano de 1728 foi criada a Venerável Irmandade para administrar e cuidar da igreja. E ao longo desses anos foram necessárias várias modificações e ampliações da pequena ermida devido ao enorme número de fiéis. No mesmo ano acrescentaram ao arco cruzeiro voltado para o mar, a nave da igreja, contendo o púlpito e o coro que ficava por cima da porta principal e uma torre e um cruzeiro.
No ano de 1870, a irmandade julga necessário fazer outra igreja. Na demolição foram encontrados os restos mortais do primeiro ermitão que serviu a Irmandade o qual se chamava, Antonio Ferreira de Souza, falecido em 1782 e o do reverendíssimo Capelão, Padre Manoel da Silveira Peixoto que serviu a irmandade desde 1803 à 1839. Hoje, estão sepultados em urnas no Cruzeiro defronte da igreja.
Em maio de 1872, foi inaugurada a nova igreja. Depois, novas obras de reconstrução e embelezamento são iniciadas em 1900 e concluídas em 1902. O então Capelão, Padre Ricardo Silva, contribuiu muito para o embelezamento da igreja. Com a construção das duas torres que lhe deu um ar mais pomposo, e as pirâmides obra do mestre Luiz de Morais Junior. Esculturas de Hugo Wagner, mármores e azulejaria de Amaral Guimarães & Cia. e, na parte de arquitetura decorativa o trabalho de estucaria, ficou a cargo do artista Henrique Lavoie.
A partir da década de 20 a igreja sofre, assim, diversos acréscimos como a construção do novo batistério, o gabinete do Capelão entre outras reformas internas que modificaram a sua forma primitiva perdendo sua referência e expressão luso-brasileira.
Hoje, sua arquitetura e decoração, por não ter um estilo único a classificamos como estilo eclético, devido a várias interferências e acréscimos de estilos. Porém, por ser um patrimônio além do material, foi tombada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro em 21/06/1990, tendo como número de decreto 9413 – 1990.
Sepultura 1
Restos mortaes do Padre Manoel da Silvaira Peixoto, Capellão de 1803 a 1839. Transferido da sachristia em 1870, onde foi sepultado, e com a reconstrução da igreja para aqui removido em 1902
(Respeitada a escrita original)
Sepultura 2
“Restos mortais do Ermitão Antonio Ferreira de Souza agenciador de esmolas para esta igreja em 1778.
Sepultado na “sachristia” em 1782 foi “d'ahi” removido em 1870, e com a reconstrução da Igreja para aqui transferido em 1902”
(Respeitada a escrita original)
A história oral diz que uma devota, Dona Maria Barbosa e seu marido, desejosos por ter um filho fizeram uma promessa a Nossa Senhora da Penha, caso conseguissem realizar seu desejo mandariam construir uma escada para facilitar o acesso dos fiéis à igreja. Com o desejo atendido, em 1817 começa a ser talhado o duro granito e no ano de 1819, com 365 degraus, é inaugurada a escadaria.
Devido ao desgaste natural e excesso de visitantes em romaria, os degraus tornaram-se escorregadios e por bem, a Irmandade, no ano de 1913, efetua a reforma total da escadaria. Houve o alargamento e mais tarde o acréscimo de dezessete degraus, sempre respeitando o traçado original. Hoje, a escadaria de acesso à igreja possui 382 degraus.
Segundo o registro de Frei Agostinho de Santa Maria, as festas em louvor a Nossa Senhora no Rio de Janeiro tem início por volta do ano de 1713, aos moldes da festa tipicamente portuguesa. As festividades aconteciam em diferentes datas e a partir de 1891, passa a ter seu início no primeiro domingo de outubro, mês da festa litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, primeira imagem a ocupar o trono da igreja.
A grande presença dos romeiros levou ao alongamento da festa, que acontece todos os domingos de outubro. Sempre com barraquinhas, espetáculos musicais que a princípio eram só portugueses, e com o tempo chega a ser o palco de disputas de sambas e marchinhas carnavalescas, com a presença de nomes consagrados da música popular brasileira. Foi na Penha que Sinhô e Donga lançam o primeiro samba carioca: “Pelo Telefone”. Da mesma forma, é na Penha que nasce o samba de partido-alto.
A igreja recebia caravanas de romeiros que após os atos religiosos, sentavam sob grandes árvores para picnics. Jogavam petecas, usavam cordões de deliciosas balas e saboreavam as maravilhosas roscas portuguesas.
Em oito de setembro de 1816, D. João VI oficializa a Festa de Nossa Senhora da Penha.
Hoje, a festa tem início no sábado antes do primeiro domingo de outubro com a lavagem da escadaria por sugestão do Capelão Pe Serafim Fernandes, desde 1999.
A lavagem da escadaria é um ato de carinho e amor à Nossa Senhora da Penha, que conta com a participação dos fiéis, alunos e moradores das comunidades da Penha, com muita alegria e confraternização.
No encerramento da festa contamos sempre com a presença de um grande e belíssimo espetáculo de música.
A Festa da Penha, como todos a chamam, é considerada a maior festa pupolar religiosa da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, com mais de 300 anos de existência.
Era de praxe nas festividades de Nossa Senhora a presença de bandas de música. Havia um coreto em frente a Casa do Romeiros e outro na lateral, o que tudo indica, não eram permanentes. Então, a Mesa Administrativa de 1923 inaugura no Largo dos Romeiros dois coretos fixos com bases octogonais de pedra e a parte superior de madeira. No topo tremulava uma bandeira do Brasil e no outro uma bandeira de Portugal. Hoje, ao completar noventa anos, os coretos foram restaurados voltando à cor original e foram acrescidos elementos que haviam sido retirados.
Na parte lateral do Largo dos Romeiros foi erguida no ano de 1931, uma capela destinada a pessoas impossibilitadas de subir até o Santuário, em louvor ao Sagrado Coração de Jesus.
Sua grande reforma aconteceu no ano de 2011, além das melhorias internas com a refrigeração para um acolhimento agradável dos fiéis, a igreja recebeu duas magníficas obras. A primeira, o painel representando o Santuário, obra do artista Robert Waissemar, tendo ao centro a belíssima escultura simbolizando o Sagrado Coração de Jesus, obra do artista entalhados e santeiro Cyriaco da Costa Tavares falecido em 1930 e considerada pela sociedade da época como “a mais rica imagem dos templos cariocas” (jornal do Brasil 20/03/1930).
A segunda obra a restauração da primeira imagem que foi entronizada no Brasil de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal.
A solenidade foi celebrada pelo Cardeal Arcebispo da cidade do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara em 14 de setembro de 1947.
No local de exposição da imagem, na parte de trás uma pintura expressiva e acolhedora do Papa João Paulo II, obra de Robert Waissemar.
Colégio Nossa Senhora da Penha
No ano de 1873 a Venerável Irmandade ergue o Colégio Masculino Nossa Senhora da Penha, destinado a população pobre da região. No ano de 1920, passa a aceitar a inscrição de meninas.
Escola tradicional confessional, católica e filantrópica no bairro da Penha que completou 140 anos de existência.
Cruzeiro da Universidade
Em 16 de novembro de 1941 pelo Cardeal Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra nas terras da Igreja, o marco da criação da 1ª Universidade Católica no Brasil. O local Ficou conhecido como Cruzeiro da Universidade.
Museu
O museu da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França foi em 1 de outubro de 1978, em uma solenidade cuja placa comemorativa foi descerrada por S. Exª o Bispo Auxiliar da Cidade do Rio de Janeiro Dom Celso Jose de Freitas, autoridades eclesiásticas, civis e militares.
O museu segue os moldes da historiografia voltada para feitos religiosos e devocionais.
A nova museografia apresentada de forma concisa a história riquíssima do Santuário e arredores.
Sala dos Ex-votos
Local de manifestação religiosa de agradecimento a graça alcançada. Na sala de ex-votos encontramos uma infinidade de objetos deixados por fiéis, desde partes do corpo de ceira até camisas de times. Além das cadeiras de roda, das muletas, uniformes militares, etc, um dos mais curiosos é está cruz de madeira maciça, que foi trazida de Santa Catariana por um devoto que pegou sua promessa.
Ermida José Escrivá
José Escrivá de Balaguer (1902-1975) foi o fundador do opus dei, uma prelazia pessoal, ou seja, eclesiásticos e clérigos leigos que se dedicam às atividades pastorais com a finalidade de participar da missão evangelizadora da igreja. Foi beatificado em 2002 pelo Papa João Paulo Segundo.
Obs.:
-Em 15 de junho de 1935 o Papa Pio XI agregou a Igreja Nossa Senhora da Penha à Sacrossanta e Patriarca Basílica de Santa Maria Maior de Roma;
-Em 15 de setembro de 1966 o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara elevou o Templo de Nossa Senhora da Penha à categoria de Santuário Mariano Perpétuo;
-Em 31 de maio de 1981 o Papa João Paulo II elevou o templo de Nossa Senhora da Penha à categoria de Santuário Mariano Arquidiocesano.
Baseado em relatos da Museóloga Oficial da Igreja da Penha, Jussara Cestari.
Horário de Funcionamento do Santuário
Todos os dias, das 07h00 às 18h00.
Missas
Segunda à sábado: Oração do terço das 07h30 às 08h00 (exceto terça-feira).
Domingo: 07h00, 08h30, 10h00, e 16h00.
Santuário de Nossa Senhora da Penha
Largo da Penha, 19 – Penha CEP. 21070-560, Rio de Janeiro, RJ Brasil
Telefone: 21 3219-6262
Site: http://www.santuariopenhario.org.br/
E-mail: faleconosco@santuariopenhario.org.br
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