Dentre muitos atores em nosso bairro, escolhemos um que se destaca por projetos que influenciam jovens da Vila Cruzeiro.
Veríssimo Júnior
Veríssimo Júnior é um artista completo, autor, produtor e ator, uma pessoa que muito contribui para o nosso bairro e que carrega a essência cultural das favelas da Penha no nome do seu grupo teatral, Teatro na Lage. Vamos conhecer esta figura ilustre.
1.Onde mora?
-Vila Isabel, mas já morei em vários bairros do Rio e o que morei mais tempo foi Santa Tereza.
2.Quantos anos tem?
-Cinquenta anos.
3.Onde nasceu?
-Em Recife.
4.É casado?
-Não, sou solteiro.
5.Tem filhos?
-Não.
6.Qual sua formação?
-Tenho a graduação em artes cênicas e mestrado em educação.
7.Desde criança era ligado à arte?
-Acho que todo mundo é, de alguma forma ligado à arte. Teatro é uma arte que está aderida.
8.Quando exatamente iniciou nesta área?
-Com dezessete para dezoito anos, comecei a cuidar das festas de São João, no bairro onde morava em Recife. Neste evento comecei a me interessar pela parte dramática que era o casamento e de certa forma, isto teve um percurso na minha vida muito semelhante ao que o teatro teve na história da humanidade em geral, surgindo como parte integrante de festas cívicas ou religiosas e depois vai ganhando vida própria. A parte dramática das festas foi ganhando autonomia e comecei a tomar gosto. Ao mesmo tempo, tinha uma militância nos movimentos sociais, no partido comunista e a minha forma de militância era feita com teatro que na época chamávamos de agite próprio, teatros de agitação e propaganda, teatros panfletados, teatros como instrumento de lutas políticas, como um subproduto da minha militância. Depois, o teatro deixou de ser um subproduto da minha atividade política e foi virando a minha atividade política. Com vinte e cinco anos de idade resolvi estudar teatro. Entrei na universidade e paralelamente no curso de formação de atores da mesma universidade, que era um curso de extensão. Transferi-me para o Rio de Janeiro e concluí minha graduação aqui, na UNIRIO. Logo após, fiz o mestrado pra analisar algumas experiências de adaptação de tragédias de William Shakespeare para o cotidiano dos jovens moradores da vila cruzeiro.
9.Como veio sua ligação com a favela?
-Nasci em uma comunidade, em um bairro de periferia, Bairro de Peixinhos. Esta comunidade tinha uma estrutura semelhante às favelas do Rio de Janeiro e quando vim para cá, fiz concurso para professor do município. Há quinze anos e fui designado para trabalhar em uma escola da Vila Cruzeiro. A partir de então, comecei a fazer um trabalho para além dos muros da escola. Depois de três ou quatro anos criei um grupo de teatro com o objetivo de ampliar as ações desenvolvidas em sala de aula.
10.Qual escola?
-Escola Municipal Leonor Coelho Pereira.
11.Este grupo ainda existe?
-Existe, é o grupo Teatro na Lage, que faz residência artística na Arena Carioca Dicró.
12.Há quantos anos existe este grupo?
-Onze anos.
13.Qual o objetivo do grupo Teatro na Lage?
-Desde o início é promover um diálogo entre as manifestações culturais, as práticas cotidianas das favelas cariocas e elementos da dramaturgia universal. Fazer uma investigação da linguagem teatral, tentando fundar um teatro contemporâneo a partir das práticas cotidianas das favelas cariocas e tentar mostrar como estas práticas tem uma contribuição única para o teatro dos dias de hoje.
14.O grupo é voltado somente para alunos ou para qualquer pessoa que queira participar?
-Hoje temos dezoito pessoas fazendo residência artística no grupo Teatro da Lage. Sete são da formação inicial e onze são pessoas de todos os cantos da cidade, inclusive pessoas de classe média, pessoas de Niterói, de madureira, pessoas de todos os lugares. Não são apenas alunos das escolas, uma vez abertas as inscrições, qualquer pessoa pode participar.
15. Se não trabalhasse com teatro seria o que?
-As pessoas costumam dizer que todo artista tem sua segunda arte. Eu, de alguma forma, mexeria com música, apesar de ser muito desafinado e não ter muitas habilidades, mas é uma outra modalidade artística que me apaixona muito, tanto é que nos espetáculos que faço, a música ocupa uma centralidade muito grande.
16.O que te emociona?
-A forma com que os moradores da Vila Cruzeiro acolheram o grupo Teatro da Lage e fizeram deste grupo, o seu grupo. Temos uma plateia fiel, sempre presente que abraçou o grupo a ponto de ter um laço orgânico.
17.O que te faz feliz?
-O teatro me faz feliz.
18.O que te deixa triste?
-Injustiça é uma coisa que me deixa muito triste, a situação pela qual passam os moradores das favelas cariocas hoje, que se tornou um espaço militarizado. As desigualdades também me deixam muito triste.
19.Tem planos para 2014?
-Continuar a residência artística na Arena Carioca Dicró e produzir um novo espetáculo através deste trabalho.
20.Tem algum sonho?
-Uma sociedade justa, solidária.
21.Acredita em Deus?
-Sim.
22.Tem religião?
-Não sei se posso dizer que tenho uma específica, pois seria necessário ser iniciado nesta religião, mas a religião pela qual tenho simpatia, identificação e que pratico dentro das minhas limitações é o candomblé.
23.O que gosta na Penha?
-Da sua história, a contribuição que a Penha dá para a cultura carioca, a Penha como um dos berços do samba carioca, a festa da Penha, as pessoas da Penha e os inúmeros amigos que tenho.
24.Moraria na Penha?
-Não moraria, pois gosto de ter uma certa distância do meu local de trabalho, senão meu espaço fica muito restrito. Morar e trabalhar no mesmo lugar limitaria muito meu espaço de circulação, gosto de diversificar. Se não fosse este fato, moraria com muita tranquilidade, porque é um bairro que tem pessoas que gosto muito.
25.Qual sua visão sobre a cultura no Brasil?
-Acho que existem diversos problemas, o primeiro é o problema conceitual de se entender cultura apenas como grandes obras e não como um modo de vida. Acho que há outro equívoco de se pensar cultura apenas como uma questão de acesso e não como direito à expressão. As pessoas de origem popular são vistas apenas como consumidores e não como produtores e isto é desmentido pela história, pois os grandes criadores das grandes manifestações culturais do Brasil foram as classes populares, só que assim como em outros ramos da vida, existe uma expropriação. As pessoas de origem popular criam as coisas que no primeiro momento são desdenhadas, depreciadas e depois são apropriadas e transformadas em mercadoria e isto é um problema sério que existe na cultura do Brasil.
26.Acha que está melhorando?
-Sou otimista e acho que hoje existem coisas interessantes acontecendo e que tendem a olhar isto de outra maneira.
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